Objetivo: Os registos ortopédicos indicam a perda de fixação do componente da glenoide da prótese do ombro como a causa mais comum de falência. Para avaliar esse resultado, o presente estudo teve como objetivo avaliar a biomecânica dos componentes umeral e glenoide da ATO usando para o efeito um modelo experimental e correspondente modelo numérico de elementos finitos.

Materiais e métodos:Utilizou-se um modelo numérico de elementos finitos validado com recurso a um dispositivo experimental da ATO, para estudar a biomecânica dos componentes umeral e glenoide da prótese (anatómica Comprehensive®) do ombro simulando numericamente condições de pós-cirurgia e médio prazo. Foram simulados três momentos de elevação sob diferentes condições de fixação óssea (prótese-osso), que permitiu determinar a situação biomecânica mais crítica e seus efeitos nos componentes da prótese, nas suas interfaces e no tecido ósseo.

Resultados: Os resultados mostram que a condição mais crítica na interface osso-implante é em abdução de 90º, onde se verificou a maior tensão de contacto no componente da glenoide, cerca de 70 MPa. Relativamente às deformações verificadas na interface e em situação de curto prazo, as máximas de tração foram cerca de 10 000 µε na região lateral do úmero, e 11 000 µε na periferia da haste de fixação central do componente da glenoide. Observou-se deformações compressivas elevadas que podem provocar a fratura de trabéculas ósseas e facilitar o micromovimento na interface e instabilidade da prótese. Os micromovimentos mais elevados foram verificados no pino central de fixação do componente do glenoide, entre 20 a 25 µm, e 325 µm no plano lateral do componente umeral.

Conclusões: Os resultados apresentados estão em concordância com alguns estudos clínicos publicados, e as tensões/deformações obtidas na interface do componente da glenoide são elevadas e passíveis de provocar a perda de fixação. Para além destas, os micromovimentos do componente umeral podem também ser um adequado indicador para prever a perda de fixação da prótese ou a formação de tecido fibroso na interface que não permitirá manter a prótese funcionalmente estável. As tensões e os micromovimentos podem ser avaliados para inferir o comportamento biomecânico de próteses do ombro no longo prazo.

As fraturas da extremidade distal do rádio são frequentemente observadas na urgência ortopédica. A fratura luxação do punho é uma lesão grave exigindo a melhor reconstrução possível para evitar as sequelas articulares. Vários autores relatam uma alta incidência de lesões do complexo de fibrocartilagem triangular e da articulação distal rádioulnar. A artroscopia surge como método diagnóstico e terapêutico, para controlar a reconstrução articular e identificar de lesões ligamentares associadas.

A luxação da articulação interfalangeana distal (AIFD) é uma lesão incomum, por ser uma articulação inerentemente estável. Os autores apresentam o caso de uma paciente do sexo feminino, de 48 anos, com história de traumatismo na mão ocorrido 15 dias antes da consulta. Caracterizou-se uma luxação da AIFD redutível, porém instável. Devido à instabilidade da redução, a paciente foi encaminhada para tratamento cirúrgico. Os autores discutem as opções de tratamento para esta lesão, concluindo que o tratamento cirúrgico da luxação da AIFD instável deve ser cirúrgico e que a fixação transarticular por meio de um fio de Kirschner é tecnicamente simples e leva a bom resultado funcional pós-operatório.

O desluvamento anterior do côndilo externo umeral é uma lesão extremamente rara na população pediátrica, com apenas um caso descrito na literatura.

Esta lesão pode passar facilmente despercebida já que a anamnese e exploração física são extremamente difíceis na infância e adolescência. A cartilagem articular e cartilagem dos centros de ossificação secundários do cotovelo não são visíveis nos exames radiográficos, justificando a necessidade de uma tomografia computorizada, ressonância magnética ou uma artrografia pré-cirúrgica se o doente se apresentar com dor e impotência funcional do cotovelo.

Relatamos um caso clínico de um rapaz de 13 anos de idade com um desluvamento anterior do côndilo umeral externo e uma subluxação posterior da tacícula radial cujo diagnóstico passou inicialmente despercebido. Apresentamos também uma revisão da abordagem ao cotovelo infantil traumático, enfatizando uma abordagem sistemática para evitar que diagnósticos como este passem desapercebidos.

A artroplastia total da anca tem evoluído significativamente nas últimas décadas, particularmente os materiais utilizados, a interface de superfícies e a modularidade dos componentes. Contudo, a modularidade associa-se a fricção, corrosão e libertação de partículas de desgaste dos biomateriais, o que induz uma reação tecidular local adversa, evoluindo até falência da artroplastia. Apresentamos um caso de desgaste da interface cabeça-colo femoral com dissociação secundária, sendo avaliadas as possíveis causas.

Doente do sexo masculino, 73 anos de idade, portador de artroplastia total da anca bilateral desde há 11 anos, que recorreu ao serviço de urgência por dor e limitação funcional súbita da anca direita. Diagnosticada falência de artroplastia total da anca por dissociação da cabeça-colo femoral secundária a desgaste anómalo do colo da haste femoral.

O desgaste do colo da haste femoral está associado a múltiplos fatores, incluindo utilização de determinadas ligas metálicas, tamanho e desenho do implante, índice de massa corporal superior a 30kg/m2, sexo masculino, idade jovem e fatores cirúrgicos como a interposição de tecido ou incorreta seleção dos componentes.

O reconhecimento deste tipo de falência de artroplastia é importante na planificação da cirurgia de revisão.

A inflamação crónica observada na artrite reumatóide provoca frequentemente disfunção do tendão tibial posterior, o que pode levar a sobrecarga  dos estabilizadores estáticos do retropé, em especial dos ligamento calcaneonavicular e talocalcaneano, com consequente desenvolvimento  de um pé plano valgo.

Apresenta-se o caso de um doente com história de artrite reumatóide de longa evolução, observado em consulta por dor e derrame articular do tornozelo direito. Clinicamente apresentava edema e dor na palpação do trajecto do tendão tibial posterior e um teste em pontas dos pés positivo, mas doloroso e com limitação da inversão do calcâneo à direita. Foi submetido a ressonância magnética nuclear que demonstrou uma rotura de espessura completa ou parcial de alto grau do tendão tibial posterior.

Foi submetido a tenoscopia do tendão tibial posterior, com sinovectomia alargada e desbridamento de todas as aderências, constatando-se no final do procedimento a integridade tendinosa e a sua normal excursão.

Na avaliação realizada no final do primeiro ano pós cirurgia, o doente tinha retornado às suas actividades do quotidiano. Mantinha arcada plantar e era capaz de realizar o apoio em pontas bilateral sem dor, mantendo alguma limitação da inversão do calcâneo direito, embora sem impacto clínico.

Este caso clínico é ilustrativo da utilidade da tenoscopia na disfunção aguda do tendão tibial posterior, tanto a nível diagnóstico como terapêutico, permitindo uma melhoria dos sintomas e dos scores clínicos a curto e médio prazo.