RESULTADOS
A amostra é constituída por 355 idosos, dos quais 75,8% do sexo feminino e os restantes do masculino. A idade varia entre 65 e 98 anos, sendo a média 79,7 anos e o erro padrão 7,5 anos. Por faixas etárias, predominam os idosos com idade compreendida entre 80 a 84 anos, inclusive, com uma frequência relativa de 28,2%. Há 18,6% de idosos com idade entre 75 a 79 anos, e 16,9% com 85 a 89 anos e 15,8% com 70 a 74 anos. Na faixa etária dos 65 a 69 anos foram contabilizados 11% dos idosos e 9,6% com 90 ou mais anos. A maioria dos idosos (72,1%) é casada ou vive em união de facto e contabilizaram-se 21,4% de viúvos. Na amostra deste estudo, verificou-se uma predominância dos níveis de escolaridade mais baixos, cerca de 10% não frequentou a escola, 26,5% não completou o primeiro ciclo, 37,2% completaram o primeiro ciclo e 12,7% o segundo ciclo. Isto totaliza cerca de 86%. Os restantes mencionaram ter o terceiro ciclo, ensino secundário, profissional e superior, destacando-se este com 8,7% dos inquiridos. Estes resultados constam no quadro 3.
Observa-se que a idade das mulheres é ligeiramente mais elevada que a dos homens, quer em termos absolutos quer em termos medianos.
Quanto ao concelho de naturalidade, há uma clara predominância da região do nordeste transmontano. Destacando-se Bragança, Mirandela, Macedo de Cavaleiros e Vinhais.
No que toca ao concelho de residência, a supremacia de Bragança, Mirandela e Macedo de Cavaleiros é ainda mais notória.
No quadro 4 apresentamos o valor médio e o erro padrão de cada item registado na amostra em estudo, assim como as possíveis cotações em cada item. A atividade de vida diária com menor número de independentes é o banho, com apenas 48,5%. Nas restantes ABVD´s a percentagem de idosos totalmente independentes na sua realização é sempre superior a 80%, e superior a 90% no que toca a alimentação. Os valores médios tendem a aproximar-se da pontuação máxima de cada item, com exceção do banho, cujo valor é de 2,42 pontos. Globalmente, a escala varia entre zero e 100 pontos, sendo que a média observada na amostra em estudo foi de 89,18 pontos com um erro padrão de 18,57 pontos.
De acordo com as cinco categorias de independência contempladas pelo índice de Barthel, cerca de 80% dos idosos inquiridos são independentes nas suas ABVD´s, 11,3% são ligeiramente dependentes, 6,2% moderadamente dependentes e os restantes severamente ou totalmente dependentes.
Os resultados da aplicação do índice de Lawton & Brody constam do quadro 5.
A escala de Lawton & Brody contempla cinco categorias de dependência. Na amostra em estudo, 49,3% dos idosos são independentes, tendo-se registado maior percentagem de independentes nas mulheres. Há 20% de idosos ligeiramente dependentes, com especial relevância nos homens. Cerca de 16% dos idosos são moderadamente dependentes nas AIVD’s, 7,3% são dependentes graves e 7% totalmente dependentes. Nestas duas últimas categorias, assume especial relevância a percentagem obtida nas mulheres.
No quadro 6 apresentamos as frequências absolutas e relativas obtidas em cada item da avaliação do risco de queda pela escala de Morse. Contabilizaram-se 21,4% de idosos com antecedentes de queda; 89,3% com diagnóstico secundário; 35,2% com auxílio para deambular; cerca de 90% com medicação e/ou heparina; cerca de 35% com dificuldades na marcha e cerca de 3% de idosos não conscientes das suas limitações.
A distribuição da amostra pelas três categorias de risco, culminou em 10,1% de idosos sem risco, 51,5% dos idosos da amostra com risco médio e cerca de 38% com risco elevado de queda.
Relativamente à GDS - 15 apresentamos no quadro 7 as frequências absolutas e relativas em cada item. Quanto à distribuição da amostra pelas duas categorias contempladas na GDS - 15, a maioria dos idosos inquiridos (78,3%) não sofre de depressão.
No quadro 8 apresentamos as medidas de tendência central, média, moda e mediana e ainda o erro padrão de cada domínio contemplado no MMSE. Nos quatro primeiros domínios os valores medianos e modais coincidiram com o valor máximo e valores médios também muito próximos desse máximo. Na linguagem obteve-se 6 como valor modal e mediano, numa variação possível de até 8 pontos. O valor médio foi 6,46 e o erro padrão 1,52 pontos. Na capacidade construtiva obteve-se o pior resultado, pois quer a moda quer a mediana foi zero pontos, e o valor médio foi de 0,3 pontos com um erro padrão de 0,46 pontos. De notar que este domínio é pontuável com apenas 0 ou 1 ponto. Em termos globais, o MMSE varia entre zero e 30 pontos, mas na amostra deste estudo, o valor modal e mediano foi de 27 pontos. A média observada foi de 25,83 pontos com um erro padrão de 4,80 pontos.
A partir do MMSE e em conjunção com o nível de escolaridade dos idosos inquiridos obtém-se uma classificação atendendo à existência de risco cognitivo. Na amostra deste estudo, há 92 idosos (25,9%) com risco cognitivo.
Apresentamos as medidas de tendência central (média, moda e mediana) e de dispersão (erro padrão) para cada item da escala de Gijón. Nos dois primeiros itens obtiveram-se valores médios ligeiramente superiores a 2, sendo a moda e a mediana 2. Isto significa que a maioria dos idosos vive com o cônjuge de idade similar à sua, e aufere reformas que variam de 1 a 2 salários mínimos. Quanto à habitação e relações sociais a moda observada foi 2 pontos assim como a mediana. Em termos médios os valores são ligeiramente inferiores a 2. Assim, conclui-se que a maioria dos idosos possui barreiras arquitetónicas na casa ou na entrada principal, e relaciona-se só com a família ou vizinhos.
Por último, no apoio de rede social, a moda e a mediana é 1, pelo que a maioria dos idosos tem apoio familiar ou de vizinhos. O valor médio registado foi de 1,77 pontos.
Categorizamos os idosos deste estudo em “risco social normal baixo” ou “risco intermédio ou elevado”. Na primeira categoria foram classificados 89,3% dos idosos.
De seguida apresentam-se os resultados obtidos em termos de variação média e desvio padrão para cada domínio da escala de WHOQOL-Bref. No quadro 9 consta a distribuição dos itens pelos vários domínios. A consistência interna da escala foi avaliada pelo Alfa de Cronbach tendo-se registado um valor global de 0,90 o que traduz uma boa consistência. Calculamos também este parâmetro para cada domínio, tendo-se registado um valor inferior a 0,6 no domínio físico (consistência inadmissível). No domínio psicológico obteve-se um alfa de Cronbach de 0,6 pelo que a consistência interna é fraca, nas relações sociais é razoável (0,7) e no ambiente é boa (0,86).
Quanto às pontuações normalizadas, o domínio físico é o que apresenta menor qualidade de vida (50,89 pontos), seguindo-se o psicológico (60,94 pontos), ambiente (72,31 pontos) e as relações sociais (73,54 pontos). Globalmente, o valor médio obtido foi de 62,04 pontos.
Apresentamos de seguida alguns testes estatísticos realizados com o objetivo de comparar, nas várias escalas aplicadas, os vários grupos operacionalizados com algumas das variáveis sociodemográficas. Mas, em primeiro lugar vamos calcular as correlações obtidas entre as várias escalas, considerando para tal as pontuações globais de cada uma delas. Como as pontuações globais de cada escala não seguem uma distribuição normal (testada recorrendo ao teste de Kolmogorov-Smirnov) temos que calcular as correlações de Spearman.
Todas as escalas estão correlacionadas de forma estatisticamente significativa entre si, pois todos os valores de prova obtidos foram inferiores a 1%.
Quanto mais alto for o índice de Barthel mais elevado é o Lawton & Brody e o MMSE, e vice-versa, ou seja, os idosos mais independentes nas ABVD’s são mais independentes nas AIVD’s e apresentam menor risco cognitivo. E, temos ainda o Barthel, correlacionado negativamente com a escala de Morse, a GDS - 15 e Gijón, e vice-versa. Isto é, os idosos mais independentes nas ABVD’s apresentam menor risco de queda, menor depressão e menor risco social.
O índice de Lawton & Brody está correlacionado de forma positiva com o MMSE, pelo que indivíduos mais independentes das AIVD’s apresentam menor risco cognitivo e vice-versa. E está correlacionado de forma negativa com a escala de Morse, GDS - 15 e Gijón. Isto é, os idosos mais independentes nas AIVD’s apresentam menor risco de queda, menor depressão e menor risco social (e vice-versa).
A escala de Morse está correlacionada de forma positiva com a GDS - 15 e com Gijón, pelo que os idosos que apresentam maior risco de queda, são mais depressivos e apresentam maior risco social (e vice-versa). E, correlacionada de forma negativa com o MMSE, o que se traduz por idosos com maior risco de queda terem maior risco cognitivo.
A escala de GDS - 15 está negativamente correlacionada com o MMSE, pelo que idosos mais depressivos têm maior risco cognitivo, e positivamente com a escala de Gijón, isto é, idosos mais depressivos têm maior risco social (e vice-versa).
O MMSE está negativamente correlacionada com a escala de Gijón, pelo que idosos com menor risco cognitivo apresentam menor risco social.
O índice de Barthel, o de Lawton & Brody e o MMSE estão correlacionados de forma significativa e positiva com todos os domínios da escala de WHOQOL-Bref. Assim, os idosos mais independentes em termos de ABVD’s, AIVD’s e com menor risco cognitivo apresentam maior qualidade de vida em cada domínio e vice-versa.
A escala de Morse, a GDS - 15 e a de Gijón estão significativamente correlacionadas no sentido negativo com cada um dos domínios da escala de WHOQOL-Bref. Assim, idosos com maior risco de queda, mais depressivos e com maior risco social apresentam menor QoL em cada domínio e vice-versa.
Recorremos ao teste de independência do qui-quadrado para estudar a independência entre a variável sexo e as variáveis categóricas obtidas no índice de Barthel (operacionalizada em duas categorias independentes e dependentes, sendo que nesta foram incluídos todos os idosos com alguma dependência), índice de Lawton & Brody (operacionalizada em três categorias: independentes, dependência ligeira a grave, totalmente dependentes), escala de Morse, GDS - 15, no MMSE e na escala de Gijón. Há uma relação de dependência estatística entre as variáveis sexo e a existência de depressão (GDS - 15), pois o valor de prova obtidos é inferior a 5%. E, nesta associação destaca-se que há mais idosas com depressão do que seria de esperar (73% sem depressão versus 85,7% com depressão). Nas restantes associações os valores de prova obtidos foram todos superiores a 5%, pelo que as variáveis sem causa são independentes.
Comprova-se que há uma associação estatisticamente significativa entre a idade e o índice de Barthel e de Lawton & Brody, a escala Morse, a GDS - 15 e o MMSE, pois todos os valores de prova obtidos são inferiores a 5%.
De uma maneira geral, os idosos mais velhos são mais dependentes em termos de ABVD’s e AIVD’s. Apresentam também maior risco de queda e de depressão e maior risco cognitivo.
No que concerne à associação com o estado civil, comprova-se que há relevância estatística com o índice de Barthel, Lawton & Brody, GDS - 15 e Gijón pois os valores de prova obtidos foram inferiores a 5%. De notar, que a variável estado civil foi operacionalizada em duas categorias: solteiros, viúvos e divorciados; e na outra, os casados ou em união de facto. Observa-se que há mais idosos dependentes em termos de ABVD’s e AIVD’s cujo estado civil é solteiro, viúvo ou divorciado, e também com mais depressão e com risco intermédio ou elevado na escala de Gijón. Não há uma associação estatisticamente significativa entre o estado civil e a escala de Morse e o MMSE, pois os valores de prova obtidos foram superiores a 5%.
No que respeita à associação entre o nível de escolaridade, operacionalizado em cinco categorias, e cada uma das escalas, comprova-se que há relevância estatística com todas, pois os valores de prova obtidos foram inferiores a 5%. Observa-se que há mais idosos dependentes em termos de ABVD’s e AIVD’s com nível de escolaridade mais baixo (até 1.º ciclo inclusive). Esses idosos apresentam também maior risco de queda, menor risco cognitivo e maior risco social.
Vamos agora comparar a qualidade de vida avaliada pelas cinco dimensões da escala WHOQOL-Bref, em função do sexo, faixa etária, estado civil e nível de escolaridade.
Nas comparações por sexo e estado civil recorremos ao teste paramétrico de T-Student (pois a amostra está dividida em dois grupos de grande dimensão) e, por faixa etária e nível de escolaridade recorremos ao teste não paramétrico de Kruskal-Wallis, pois trata-se de grupos independentes não provenientes de populações normais.
Todos os valores de prova obtidos são superiores a 5%, pelo que não há diferenças estatisticamente significativas na QoL de homens e mulheres.
As comparações da QoL por faixa etária evidenciaram que há diferenças estatisticamente significativas em todas as suas dimensões, pois todos os valores de prova foram inferiores a 5%. Em todas as dimensões conclui-se que os idosos mais jovens são os que apresentam melhor QoL, destacando-se a QoL em geral com uma diferença de 30 pontos entre os mais novos e os mais velhos.
Quanto ao estado civil, registaram-se diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos na QoL em geral, físico, psicológico e relações sociais, com valores de prova inferiores a 5%.
Nestas quatro vertentes da qualidade de vida, os idosos casados ou em união de facto são os que apresentam os melhores indicadores. Quanto ao ambiente, a diferença entre os dois grupos não é estatisticamente significativa.
Quanto à QoL atendendo ao nível de escolaridade, registaram-se diferenças estatisticamente significativas em todas as dimensões, pois todos os valores de prova obtidos foram inferiores a 5%. E, destaca-se que os idosos com maior escolaridade são os que apresentam melhor qualidade de vida em cada uma das suas vertentes.