DISCUSSÃO
A artrite séptica da acrómio-clavicular é uma entidade clinica rara1, rapidamente incapacitante e nefasta para a articulação2. Os casos descritos na literatura evidenciam comorbilidades como factores de risco prévios ou mesmo patologia estabelecida1-3.
O nosso relato reporta um caso clinico atípico, envolvendo um paciente sem história prévia de patologia médico-cirúrgica ou comorbilidades identificáveis o que o torna ainda mais raro, existindo apenas 4 casos previamente descritos nestas circunstâncias3,7.
De acordo com a literatura, em 20% dos casos é impossível identificar o microorganismo tornando assim o diagnóstico presuntivo8. Porém, a artrocentese continua a ser o padrão-ouro no que concerne o seu diagnóstico4.
Embora não tenha sido possível isolar um agente microbiano, facto este já previamente descrito na literatura3,8, e sobretudo nos casos clínicos de doentes sem factores de risco estabelecidos7, os autores acreditam que o tratamento implementado foi bem-sucedido atendendo à boa evolução clinica e laboratorial correlacionada com os achados imagiológicos.
Assim, a imagiologia assume um papel muito relevante no diagnóstico. A radiografia da AC pode evidenciar (em fase mais avançada) alargamento do espaço articular devido ao edema e derrame articular assim como a ecografia, embora seja operador-dependente9,10. A RMN, exame mais sensível e específico10.
É vital no diagnóstico precoce, podendo detectar sinais de infecção, incluindo em pequenas articulações, com apenas 24 horas de evolução2.
Quer a ecografia e a RMN permitem excluir envolvimento da articulação gleno-umeral. Permitem efectuar a exclusão do diagnóstico quando a distancia da cortical óssea à capsula é inferior a 3 mm no plano coronal9.
Na ausência de um agente identificado a terapêutica empírica deve abranger os agentes patogénicos mais frequentes - S. aureus e Streptococci pelo que a antibioterapia inicial poderá ser uma penicilina resistente à ß-lactamase, como a flucloxacilina ou uma cefalosporina5, por um período mínimo de 4 a 6 semanas como ocorrido2.
Os autores concluem também que esta patologia sendo rara, requer um alto índice de suspeição4, podendo ocorrer de forma espontânea sem causa traumática major evidente e sem factores predisponentes, não se podendo excluir à partida o envolvimento de utentes previamente saudáveis2.